Fonte dos desejos

Ruidosos e prepotentes.

    Via-se nas frestras das paredes uma gosminha branca, meio esverdeada, era uma noite chuvosa, e o teto pingava sobre minha testa.

    Eu senti por algum momento que a merda ia transbordar. Que tudo ia por água abaixo. Um dilúvio de insanidades. Eu fumava, bebia e comia ao mesmo tempo.

    Naquele mesmo dia eu estava insatisfeita com tudo. A conta no banco era mais vermelha que sangue, a casa um tormento, a comida apodrecendo e eu viajando nos pensamentos.

    Os cacos de vidro faziam reluzir umas formas legais pelo cômodo apertado. E eu ali parada olhando aquilo tudo.

    As mãos tremiam, os pés formigavam, a bunda doía, a cabeça rodava, mas eu não mudava de posição por pura preguiça.

    Quando parou de chover e a gosma branca esverdeada secou, eu resolvi que estava na hora de me levantar e fazer algo acontecer. Já havia pensado demais.

    Lavei a louça, organizei as roupas, varri, passei pano, tirei o lixo, pulei, gritei, esperneei...

    Eu podia ver o sangue pulsar... Eu podia ver tudo acontecer. as moléculas passavam na minha frente, sem me incomodar.

    O espelho passou a refletir minhas inperfeições, e foi ali que decidi tomar um banho, passar uma maquiagem e me arrumar.

    Sai.

Dei um, dois, três passos...

    Resolvi voltar.

Um, dois, três...

    Não sei o que faço.

   Era horrivel não decidir. Não ter certeza. Ficar em dúvida.Ver o sangue saltando, o coração pulsando novamente.

Um, dois...

    Fui até o bar mais próximo e pedi uma dose.
    Naquela dose, tudo desmoronou.

    Então me perdi por dias.

  Quando retornei, a casa era um tormento, a comida apodrecia e meus pensamentos gritavam "saia daqui" mas meu coração implorava pra que ficasse.


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