Clausura parte I

Em algum momento você se perguntou quando foi que ficou em silencio absoluto?

Em meio ao caos do dia a dia, você acorda, toma banho, toma café, sempre rápido e cronometrado para não atrasar o dia que só tem 24 horas, sempre pedindo um tempo a mais apenas para ficar em silencio ou resolver qualquer coisa que não conseguiu durante essas horas. 

Pega transporte público lotado, com a música gritando no fone de ouvido, anda a passos rápidos e a todo momento está desviando de alguém ou andando com alguém.

Você trabalha no automático, engole um almoço qualquer, faz todo seu trabalho bem feito pra que seu salário venha no final do mês e acabe em algumas horas depois dos boletos que vencem dois dias depois da data que o recebeu.

Na saída do expediente, um happy hour bem rápido com os amigos, uma atrasada no curso da noite depois de um cigarro. Pensa, reflete, aclama um ou outro ser que sabe (mais do que você) aquilo que você faz todo santo dia.

Você chega em casa tarde, come qualquer coisa, toma um banho pra relaxar, assiste o jornal pra se atualizar e dorme de mal jeito no sofá.

No dia seguinte, tudo se repete. E no outro, e no outro.

No fim de semana você encontra seus amigos, talvez em um bar, em um restaurante. Vai ao cinema, vai ao parque, vai as compras. Sempre na companhia de conversas, risos, gritos, falas, músicas e filosofias.

E o silencio? Se esconde em algum momento aleatorio.

Você já se perguntou: E se um dia tudo parasse?

Um dia, parou. O mundo inteiro se calou, se trancou, sumiu. Você se sentiu perdido?

Você se vê na solidão de um apartamento no centro da cidade, com os vizinhos gritando óperas pelas janelas, querendo abafar o ócio, e quando você fecha as janelas, cortinas, portas, tudo fica em silencio. Há paz.

Aqui onde eu estou não há silencio ao fechar as janelas. É na clausura do meu lar que meu caos habita e eu apenas enlouqueço, na absoluta certeza de que todos os outros seres estão presos no seu próprio ser e que o autoconhecimento vai chegar.

Não há o que fazer. Não há nem como dizer para calar-se. 
Quando há silencio, meus próprios anseios gritam em meus ouvidos.

Esse é apenas o dia 1.
Por quanto tempo vamos aguentar? 

Você na sua solitude e eu na angustia de fugir do caos.

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