Fonte dos desejos

Ainda Aqui



Talvez eu esteja vivendo fora da estação.

Me disseram que aos 40 eu teria respostas, mas eu só acumulei perguntas.
Dizem que essa é a idade da colheita e eu me olho no espelho tentando entender o que plantei — e se fui eu mesma que escolhi as sementes.

Não tenho raízes fincadas em terra firme, nem dedos entrelaçados a promessas de eternidade. Minha história não mora em escrituras, nem em cargos com nomes importantes.
Ela vive nas entrelinhas dos recomeços, nos silêncios entre um suspiro e outro, nas vezes em que a esperança voltou — mesmo ferida.

Tenho quase 41 anos e ainda me sinto com 17.
Carrego no peito um coração que não se acostuma. Não se adapta ao morno. Não se cala diante do vazio. Meus olhos ainda procuram magia onde só me deram boletos e meu corpo ainda pulsa sonhos, mesmo que o mundo me mande dormir.

Cansei de correr contra o tempo. Cansei de tentar caber em moldes que me sufocam. Se ser bem-sucedida é não sentir mais nada, então talvez eu tenha falhado com orgulho.

A minha riqueza está no invisível: nos afetos profundos que guardei, na coragem de recomeçar mesmo tremendo, na intensidade com que amo, erro, caio, levanto.
Não sou a mulher que esperavam. Sou a mulher que sobreviveu.


E isso… talvez seja tudo. Talvez seja mais do que suficiente.

Comentários