Fonte dos desejos

Quando o espelho cala

Tem dias que acordo e não sei quem sou.

Não tem música.
Não tem batom.
Não tem vontade de me ver.

O espelho virou só um objeto frio na parede.
Ele não me devolve nada.
Nem raiva, nem beleza. Nem feiura. Nem nada.
Só uma mulher que se veste no automático.

Eu lembro de quando eu escolhia as roupas como quem criava uma história.
Hoje eu só quero sair do pijama.
E às vezes nem isso.

Meus olhos ardem, não de emoção — de tela.
Meu corpo pesa, não de cansaço — de ausência.
Eu tô aqui.
Mas às vezes nem eu me percebo.

E mesmo assim, alguma coisa pulsa.
Alguma coisa em mim insiste.
Talvez seja só a memória da mulher que eu fui.
Ou talvez seja o começo da mulher que eu vou ser.

Mas dói.
Hoje ainda dói.






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