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Para refletir sobre o silêncio, os ruídos e as escolhas das mulheres hoje.
Escrito originalmente em 25/05/2025 — por Najara Fialho
Para Ler ouvindo: Polikarpa y sus viciosas - Mujeres por la ResistenciA
Desde os primórdios, as mulheres lutam por sua libertação.
Ao longo dos séculos, enfrentamos batalhas físicas, emocionais e psicológicas.
Nos libertamos, pouco a pouco, das amarras da reprodução compulsória, da obediência, do silenciamento. Lutamos pela liberdade sexual, financeira, política.
Houve gritos nas ruas, manifestos escritos, gestos simbólicos e revoluções silenciosas. Escritoras, artistas, ativistas e políticas pavimentaram um caminho de resistência.
Hoje, teoricamente, a mulher pode fazer o que quiser, como quiser, quando quiser.
Mas a luta está longe de ter terminado.
Nos últimos anos, vemos um fenômeno inquietante, principalmente na mídia e nas redes sociais: a mulher transformada novamente em símbolo de desejo — muitas vezes por vontade própria, mas dentro de um sistema que nos ensinou a performar esse desejo para conquistar reconhecimento, espaço, respeito.
Essa independência sedutora, celebrada como empoderamento, por vezes escorrega para uma reprodução inconsciente do olhar masculino sobre nós.
Pior: somos nós mesmas que, às vezes, reforçamos os paradigmas que tentamos destruir.
O feminismo se fragmenta em disputas morais, em julgamentos sobre o "jeito certo" de ser mulher ou de lutar.
Vejo mulheres atacando outras mulheres por suas escolhas: seja vender o corpo, manter um casamento tradicional, optar por silenciar ou cozinhar para a família.
Mas não lutamos justamente para que cada uma possa escolher seu próprio caminho?
Parece que esquecemos de figuras como Mary Wollstonecraft, Simone de Beauvoir, Angela Davis, Valerie Solanas, Kate Millett e tantas outras que usaram o corpo e a mente como instrumentos de enfrentamento, cada uma a sua maneira — controversas, complexas, humanas.
Hoje, o discurso feminista muitas vezes marginaliza justamente quem faz escolhas diferentes. E isso também é uma forma de opressão.
A verdade é que ser mulher nesse mundo ainda é caminhar num campo minado de exigências. E errar é parte do processo. Uma palavra mal colocada, um gesto incompreendido ou até a ausência dele vira motivo de ataque.
Precisamos lembrar que a liberdade inclui o direito de ser contraditória, de não lutar, de mudar de ideia, de escolher o que faz sentido na própria jornada. Isso também é resistência.
Não há uma fórmula única para lutar.
Gritar, calar, expor o corpo, proteger a alma, sair às ruas ou cuidar de um filho — tudo isso pode ser política, pode ser luta.
Só precisamos parar de reproduzir o que tanto combatemos: a imposição.
Porque o que é certo pra mim, pode não ser pra você.
E talvez, o verdadeiro feminismo seja esse:
a liberdade de ser, mesmo que isso desafie todas as regras.
Apenas nos deixe em paz para sermos quem quisermos e como quisermos.
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